domingo, 28 de outubro de 2007

o escondidinho - Lagos

Beco do Cemitério
Lagos

encerra aos domingos

O Gilberto achou o sítio sossegado e apesar da proximidade do cemitério esmerou-se por dar àquele beco um ar familiar e tranquilo onde, em tertúlia, os amigos se sentissem bem.
Estava criando nesse momento, sem saber, um dos lugares secretos de referência do litoral algarvio, onde se come do peixe mais fresco e melhor grelhado que pode desejar-se na vida.
E, para mim, a tasca mais simpática de Lagos.
Hoje, tantos anos passados, as mesas cá fora são, por vezes, disputadas em bichas de hora e as paredes estão repletas de documentos e relíquias, comprovativos de prazer e alarde gastronómico.
São certificados de enormes e pantagruélicos almoços e jantares onde se registam, escritos na cal dos muros exteriores, recordes pessoais, poemas de agrado e devoção e excessos inesperados. Tudo autenticado e certificado pelo próprio, que de tal modo leva a sério o assunto que promete borla a quem coma as quarenta sardinhas da praxe.
A simpatia do patrão é contagiante e a sua maior alegria parece ser ver os clientes comendo peixe atrás de peixe até lhe darem conta das caixas todas. E vem saber em mão, de mesa em mesa, se o peixe está bem, ou se tem de preparar alternativa.
Por isso mesmo, a coisa passa-se assim: Você senta-se e já está a comer. Depois... bem, depois é hábito da casa o peixe sair directo da grelha para o seu prato, e ir passando sempre até ter de recusar, por não poder mais de prazer, luxúria pura e medo de não se conseguir levantar.
Já aconteceu a casa fechar e aparecer na porta o seguinte letreiro: Hoje não abro por não ter conseguido encontrar peixe à altura da minha clientela. Gilberto.
E, ao contrário de um qualquer autor estratega de marketing, aqui sabemos que é rigorosamente verdade. O homem do Rogil não tem estratégias nem mente.
A maior dose de saída, em termos de preferência, nesta casa pequena - e, de facto, escondidíssima - é o peixe fresco.
Entenda-se, durante o Verão, o carapau (médio, divinal e perfumado como nenhum outro...) e a sardinha; e durante o período de defeso destes, o robalo e a dourada de mar (se forem de aviário o Gilberto avisa sempre os amigos menos entendidos no assunto...), o besugo, o espada, o sargo - melhor a partir de Janeiro - por vezes o salmonete.
Tudo acompanhado com a batata cozida com alho e oregãos, à algarvia.
Não é raro ver o peixe chegar no balde do pescador e entrar directo para a cozinha, sendo o negócio feito, ali mesmo, à frente do cliente.
Ao fim de umas idas fica-se com o vicio. Que apenas se deve transmitir a poucas e muito escolhidas pessoas, entre o mundo de amigos do peito e da mesa que nos mereçam tão valiosa informação. Não exagere. Filtre bem. Seleccione.
Casas de banho exíguas, estacionamento impossível, filas intermináveis, vizinhança sossegada (cemitério velho de Lagos...), luxos nulos, mesa e bancos corridos e toalhas de papel, fumo na esplanada, paredes todas escritas, televisão acesa, ambiente popular e barulhento, mas o melhor peixe na grelha da cidade. De muitas grelhas de muitas cidades.
Questão de fazer opção e escolher.
Eu gasto. E, como digo na canção, quem não gosta, não gaste, deixe ficar...
Os devotos agradecem.

Resumo:

Mesas e cadeiras *

Porção *****

Confecção*****

Tempo de espera ***

Serviço ***

WC *

Ambiente/paisagem *

Estacionamento *

Grau de satisfação geral ****

Preço $

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

restaurante o afonso

Restaurante O Afonso
Mora

Estamos a falar de um espaço central na vila de Mora, onde houve a simpática ideia de construir um fluviário, iniciativa que bem merece uma visita.
É um concelho do Alentejo norte, distrito de Évora, bem central, e por isso, ponto de passagem natural para quem vai para Norte, e quase obrigatório para o viajante que desça do Ribatejo a terras do Sul pelo interior.
Quase diria que o Afonso é o coração de Mora, tal como o café Central é o coração da Golegã. E tantos outros Restaurantes que pela sua qualidade e preponderância determinam desvios no mapa, por vezes quilómetros extra, só para passarmos por lá. E que são de facto o centro anímico e convivencial das suas terras. O ponto de passagem quase obrigatório.
É o caso deste santuário de sacralidade gustativa e da simpatia alentejana.
Apetece provar todas as entradas, desde o paio, aos torresmos e aos queijinhos. Depois, há um menu diverso e tentador a escolher de acordo com todos os apetites e fomes do viajante ou residente.
De minha experiência aconselharia o bacalhau à Braz - um dos melhores que se pode comer neste país, seguramente - a caldeta de cação e o achigã grelhado, nos peixes; bem como o coelho à caçador (gomoso e apurado como deve ser), a perdiz à D. Bia e o arroz de lebre, sempre que haja, nas carnes.
A lista de vinhos, em especial alentejanos, é vasta e permite escolhas para todas as bolsas e palatos.
O estacionamento nem sempre é fácil, mas há um largo próximo, onde por vezes se consegue, com alguma sorte, deixar o carro.
A amesendação é em cadeiras e mesas confortáveis, com toalhas e guardanapos de pano, em ambiente de tom rústico regional mas alegre, luminoso e limpo.
As sobremesas são uma tentação demoníaca. São os queijinhos de Mora, por vezes o morgado, o pudim de café, enfim, perdições.
Deixo uma nota especial para o facto de o achigã ser um peixe excelente e menos conhecido dos gourmets citadinos, pois não chega praticamente aos grandes centros urbanos. Este é pescado na Barragem de Montargil ali bem ao pé e tem sempre textura, frescura, corpo e sabor. Como é uma raridade, raramente perdoo.
O restaurante Afonso é, para mim, talvez, um dos melhores cem Restaurantes portugueses. Nunca tinha pensado nisso, mas um dia hei-de contá-los.
Se nunca perder qualidades, como se espera, volto sempre.

Resumo:

Sala ***

Mobiliário ***

Porções****

Tempo de espera ***

Confecção *****

Serviço ****

WC ***

Estacionamento **

Paisagem/Ambiente ***

Grau de satisfação geral ****

Preço $$$ (depende sobretudo dos vinhos escolhidos)

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

as tascas do meu país

Amigos,

As tascas de Portugal são um património inestimável.
Uma enorme referencia de transmissão cultural.
Deviam estar isentas de impostos. Totalmente isentas, ou parcialmente isentas; de acordo galopante com a qualidade, a confecção, a simpatia, o deslumbre de sabores guardados.
Nelas se evocam segredos de um passado comum galaico português, os sabores da pobreza, os petiscos de avós e bisavós, as ervas de leito de ribeira e de sequeiro esquecidas por distraídos e presumidos chefs pseudo-omniscientes, as soluções simples que encheram e deliciaram gerações passadas, enfim, séculos de sapidez e indulgência.
Bem aventuradas as tascas do meu país!
Durante uma vida achei por bem resistir a divulgar estes monumentos de degustação. Para não os ver invadidos por selváticos usufruidores banais, e para que nunca tivessem o sucesso que os poderá estragar, aviltar, vulgarizar e enlouquecer aos olhos da clientela íntima e conhecedora. Crueldade pura.
Hoje aqui, neste espaço de elegância e intimidade reservado a maiores de gosto e luxúria, vos prometo abordar - devagar, para que se cumpra um ritual de passagem solene mas discreto e progressivo...- a gastronomia de algumas merecedoras tascas ocultas e secretas de Portugal.

Sempre me ensinaram, de pequeno, que a suprema aristocracia dos gostos não invalida nem exclui, a priori, nenhum sitio, nenhum sabor, nenhum aroma, nenhum local, nenhum produto, nenhuma opinião, até prova factual em seu desabono.;

Com efeito, desde que cumpridas as normas de higiene - não, desde logo, as que a ASAE estupidamente impõe , mas as que o senso comum e equilíbrio mental exigem...- uma boa confecção é sempre uma boa confecção; e um prato desastroso e mal equilibrado será sempre um desgosto ao consumidor, por muito disfarçado que esteja de criatividade estética e presunção artística, mesmo que nos seja apresentado no mais majestoso e dispendioso restaurante.

Há, com efeito, uma perversa relação habitual de causa e efeito que urge combater no que concerne ao acto de frequentar espaços de grande marcação e visibilidade. Nunca se comeu bem numa sala, só pela majestade dos seus lustres, ou o velho e respeitável dourado de sua talha.
O mesmo é válido, infelizmente, para um tipo de snack que poderia e deveria ter mantido o registo de tasca, sem aspirar a modernices nem a servir cem almoços, só para melhor facturar combatendo a crise. A crise combate-se com a qualidade e o assomo de coragem de continuar a defender a gastronomia de origem demarcada.

Neste espaço tanto se relatarão visitas e críticas a Restaurantes de referência nacional, como das ocultas e sempre esquecidas tascas onde - num outro enquadramento e clave alimentar...- se consomem bens e sabores que sejam igualmente de referenciar.

Não ressalte, contudo, deste post a falsa impressão de um desconfiado trato preconceituoso e imbecil contra a restauração de alta cozinha, que é obviamente, uma das artes maiores da existência, comparável ao saber de um Velásquez, um Malhoa, um Mozart ou um Verdi.

Mas quis salientar e relevar a intenção de aqui desejar efectuar uma abordagem ecléctica da apreciação alimentar, pois me parece que esse é sempre um lado omisso na crítica gastronómica que se faz neste país. E os espaços merecem todos a mesma atenção, ou quase.

Uns a um nível absoluto de arte e prazer conceptual; e outros ao nível da sua utilidade social e histórica na conservação de valores tradicionais.

Frequentem este blog e embarquem comigo, se possível, - ao mesmo tempo que, comentando e informando, me auxiliem... - neste tão ingrato trabalho de avaliar e descobrir o incomensurável e sempre surpreendente gosto de viver.

Restaurante Zona Verde

Restaurante Zona Verde

Rossio de S Braz, 86 – Estremoz

Uma entrada que não facilita muito, nem parece prenunciar grande festa, mas depois descobre-se um espaço traseiro agradável, bem achado, abobadado e íntimo q.b. O restaurante fica num local central da cidade e com uma ementa típica composta essencialmente pelos habituais standards alentejanos. Os pés de coentrada, a caldeta de cação, a açorda, o ensopado de borrego, etc.

São 55 lugares com boa amesendação, mesas e cadeiras confortáveis. Guardanapos de pano. Entradas pródigas e boa carta de vinhos.

Boa frequência, aparentemente de classe média alta.

Excelente cozinha com brilhantes desempenhos culinários em geral.

O ensopado de borrego, apesar de caldoso, servido em malga e com colher, merece destaque pelo bom perfume a hortelã e a ervas campestres de segredo da cozinheira, carregando de aroma um prato que, por vezes, nos é servido em forma de uma sopa aguada, sem graça nem apuro. Este não -bem apurado e calibrado. Fatias finas de pão ázimo e talvez um tudo nada de batata a mais. Mas muito bom.

Os pés de coentrada óptimos e genuínos, bem como o cação, saboroso, no ponto certo e de bom caldo. Mais não provámos. Mas pelo aspecto de tudo o que vimos passar, ficamos elucidados e o conjunto basta para darmos uma nota excelente à cozinha, sobretudo nos pratos regionais.

Um serviço com simpatia e celeridade um pouco aquém do desejado, com semblante carregado da parte de alguns empregados; mas, enfim, talvez alguma coisa tivesse acontecido de negativo no dia da nossa visita e a natureza humana é sempre sensível...

Carta de vinhos generosa e com algumas boas surpresas, inclusive o vinho da casa - tanto o branco, como o tinto.

Sobremesas regionais de boa confecção. WC pouco generosos e sem cabides. Estacionamento razoavelmente fácil.

Um local a visitar, se passar por Estremoz e dispuser de carteira confortável nesse dia. Vale a pena.

Resumo:

Sala ***

Mobiliário ***

Porções***

Tempo de espera **

Confecção ****

Serviço **

WC ***

Estacionamento ***

Paisagem/Ambiente ***

Grau de satisfação geral ****

Preço $$$$

Tabela de classificação

* (francamente mau) ;** (pode melhorar);*** (razoável);**** (bom);*****(mº bom)

Preço

muito barato ($) ; barato ($$); médio ($$$); caro ($$$$) ; bastante caro ($$$$$)

Retiro do Caçador

Retiro do Caçador – Gralheira

Castro Daire

A simpatia doce da Marisa parece vir de outro filme, numa praia mediterrânica qualquer; mas não.

Estamos na alta montanha, no meio da Serra, olhando infinitos de devastação por incêndio, floresta resistente, penhascos imensos e precipícios, velhas casas de granito, outras mais recentes que representam sustos modernistas, espaço ate dizer demais, e respiramos aquele tal ar frio mas são – estamos na serra da Gralheira.

De Castro Daire até lá são uns 15 minutos por montes e vales onde a natureza não para de nos surpreender. Riachos gorgolejam e encantam, algumas casas recentes desiludem, a paisagem esmaga-nos sempre.

Encontramos o Retiro do Caçador após nos perdermos várias vezes. Convém dizer que não se perdia nada se houvesse uns letreiros ajudando pelo caminho…à atenção da gerência, se faz favor.

Primeira desilusão – então não é que depois de tanto caminhar, entrando no velhíssimo burgo de casa graníticas, com algumas capuchinhas ainda desfilando o traje secular e os bois circulando em liberdade pelas ruelas, aparece-nos uma… pizzaria?!

Passado o primeiro espanto, subimos as escadas e começa a função almoçadeira, numa sala bem urdida aproveitando o típico granito, as madeiras e a paisagem. É no fundo um espaço bem sucedido aproveitado com gosto.

As entradas sucedem-se são constituídas por presunto serrano, paio caseiro, queijo serra artesanal, chouriça negra passada pela brasa, bola acabada de fazer, azeitonas bem temperadas e um vinho tinto muito encorpado - quase mais parecendo alentejano - mas dali bem mais perto, de S João da Pesqueira.

Quando veio a excelente sopa de legumes, o olhar também gozou com a apresentação, pois ela vinha transportada na panela de ferro. Eventualmente tratar-se-á de folclore pois, apesar de muito apaladada, não me pareceu daquelas que são confeccionadas longas horas na velha panela de ferro suspensa no fumeiro…ou pousada na trempe. Contudo, tanto a apresentação como o sabor agradaram intensamente.

Ao nosso lado, muitos comensais mais jovens e em grupo escolheram pizas! Até pareciam ser confeccionadas com uma massa bem feita, mas sinceramente, naquele ambiente arqui – português comer pizas…! Bom, prefiro nem comentar…

Provei a vitela assada (um pouco seca sem o molho, que rectificou) e as costeletas de anho (fabulosas e tenras). Ambas as carnes eram acompanhadas por arroz branco solto servido, como pertence, na alcofa de barro (óptimo), couve no ponto e batata de forno (um pouco desfeita e sem brilho).

Não havia ao que parece, naquele dia, o cabrito e, apesar de haver, também não optamos pelo lombo de porco assado.

O forno é a base da cozinha do Retiro. O pão pode assim ter o privilégio de estar quente e ser caseiro… E era muito bom e guloso, confirmamos.

Mas de certo modo o forno é também uma limitação.

O menu podia e devia ser mais exploratório das delícias gastronómicas serranas. Há assim, um mundo de sabores que não encontrámos. Mas os que encontrámos estavam muito razoáveis e não desmereceram.

Podia talvez também não ser o dia para isso, uma vez que a nossa visita foi durante a semana. E a casa precata-se seguramente de outra maneira aos fins de semana…

Saliente-se o charme de estar no fim do mundo e ser servido com aparato e fartura. E com produtos, aparentemente, todos caseiros.

Um reparo apenas: - ali tão perto da região demarcada correspondente, seria a vitela de carne arouquesa? Não me pareceu…

È de voltar claro. Só aquele caminho de cortar a respiração é um emblema enorme de um Portugal que tem mais para oferecer que litoral e praias!... Para rever tudo, saborear outras matérias e para rever também o sorriso sempre meigo da Marisa, num serviço impecável e generoso.

Preço médio para a qualidade. Merece a viagem

Resumo:

Sala ***

Mobiliário ***

Porções***

Tempo de espera **

Confecção ***

Serviço ***

WC ***

Estacionamento ***

Paisagem/Ambiente ****

Grau de satisfação geral ***

Preço $$$

Restaurante Baía

Restaurante Baía – Seixal

O restaurante trata-se de um espaço bem aproveitado, entre ruas. Entramos por uma porta secular, talvez medieval e vem um simpático setter fazer de recepcionista, calmo e afável vindo de mesa em mesa para receber festas….

Ambiente descontraído mas intimo. Luz ambiente no registo ideal. Rés-do-chão baixo.

Antes que esqueça queremos salientar a simpatia do William, brasileiro de Minas Gerais e 25 % transmontano como faz questão de dizer…

E por favor em nome da beleza feminina conheçam a patroa – meu Deus… uma jovem empresária, com um sorriso permanente e uma beleza cativante – cujas poderão confirmar. E esqueçam toda e qualquer imagem preconceituosa do que a palavra patroa vos possa evocar…

Entradas e ambiente simpático. Uma sopa de lambujinhas deliciosa. 20 valores. A aconselhar sem dúvida. Depois optamos pela cataplana que se revelou interessante (talvez demasiadas natas, quando a ideia é fazer engrossar e reduzir lentamente o molho até ao melhor apuramento)

Boa sangria branca, o que nem sempre acontece. Pouca escolha de vinhos.

…Mas, já agora, quando será que - em terra de pescadores e a menos de vinte metros do Mar da palha - se começa a esquecer o robalo e a dourada manhosos de uma vez por todas?

Amesendação acertada em guardanapos e toalha de pano; decoração marítima, boas sobremesas, óptimo serviço, descontraído e afável (será de explicar ao William que tu não deve ser aplicado em Portugal com a leveza que se aplica no Brasil…) e, finalmente… conta desmedidamente excessiva para o local e a qualidade geral.

Merece nova visita. Mas preparem-se – se quiserem celebrar juntem uns 60 euros por casal, isto no mínimo… e sem grandes vinhos.

Estacionamento nem sempre fácil e música ambiente em alguns dias da semana.

Ao que parece não tivemos sorte nisso.

Resumo:

Sala ***

Mobiliário ***

Porções***

Tempo de espera **

Confecção ***

Serviço ***

WC ***

Estacionamento **

Paisagem/Ambiente ***

Grau de satisfação geral ***

Preço $$$$$

Restaurante Vilamanjar

Restaurante Vilamanjar

Edifício do Mercado Municipal

Sobral de Monte Agraço

É para mim, ainda e sempre, um pouco estranho o acto de ter de subir a um andar, que não o habitual rés-do-chão, para entrar num Restaurante. Contudo, além de isso constituir provavelmente um preconceito pessoal, o facto é que, até hoje, não tenho grande razão de queixa de nenhum caso em que tal exigência me tenha sido imposta. Ou que esse facto implicasse, per se, perda significativa de qualidade.

Neste caso, e numa situação frente à Rodoviária, com estacionamento razoável e boa visibilidade, esta iniciativa implicou o aproveitamento de um andar superior do Mercado Municipal – lembrando o famoso Restaurante Panorama de Melgaço!...

É um piso moderno, dividido em dois espaços que parecem funcionar em paralelo ou separado, conforme critérios de lotação (até 60 lugares) e conveniência. Algumas notas de modernidade e um ar limpo e dinâmico dão uma primeira nota positiva ao forasteiro.

A ementa é uma agradável surpresa do ponto de vista da criatividade em comida regional, com o seu quê de ambição no manuseamento das matérias.

É o caso da espetada de peixe com migas de brócolos, castanhas com cubos de vitela, bacalhau com queijo da serra e presunto, bife acompanhado de gratinado de esparregado e batata, ovos com farinheira e outras criativas e esquecidas artes.

A coisa acaba por ser simultaneamente simples e genuína, mas de algum modo evoluída e surpreendente, pois nem sempre na restauração nacional tais sabores são potenciados ou lembrados sequer. Com efeito, uns simples ovos escalfados com ervilhas podem ser uma solução airosa e não comprometedora, como pudemos verificar.

A sopa de peixe estava muito boa de equilíbrios e conteúdo, com coentros servidos à parte, faltando apenas o pão frito, para meu critério.

O serviço é rápido e atento, com empregados fardados de avental longo e a amesendação cuidada, com as simpáticas e envolventes cadeiras Thonet, tão a meu gosto. Guardanapos de pano e mesa coberta com toalha dupla. Centros de mesa com exotismo e originalidade.

O vinho da casa, supostamente da região, podia ter melhor escolha, pois estamos em plena zona vinhateira do oeste. Mas, para o caso de querer melhor, tem carta de vinhos bem elaborada e com escolha não muito alongada mas eficaz.

Em fim de festa, há, entre outras, uma boa sobremesa que se converteu num ex-libris da casa já conhecido - a espetada de frutos tropicais com leite creme e açúcar queimado, com o seu quê de espectacular.

Casa de banho amplas e modernas, simpatia e ambiente positivos. Preços de menu pelo menos tanto quanto me apercebi aos almoços.

Vale a pena subir ao primeiro andar do Mercado em Sobral de Monte Agraço para uma refeição. É uma boa escolha e um óptimo compromisso qualidade, criatividade e preço.

Resumo:

Mesas e cadeiras ****

Porção ***

Confecção****

Tempo de espera ****

Serviço ****

WC ***

Ambiente/paisagem ***

Estacionamento ***

Grau de satisfação geral ****

Preço $$$

Tabela de classificação

* (francamente mau); ** (pode melhorar); *** (satisfaz); **** (bom); *****(muito bom)

Preço

Muito barato ($); barato ($$); médio ($$$); caro ($$$$); bastante caro ($$$$$)