sábado, 16 de maio de 2015

"Bistro...Gulli" - Aljezur

Explicação prévia - Pouco ligo a cozinha italiana, sinceramente. Ponto. Defeito meu.
Acho adequada e saborosa para uma vez no ano. Ou um recurso caseiro naqueles dias em que meia dúzia de amigos nos invadem a casa e temos de resolver rapidamente, de forma o mais airosa possível, um jantar ad hoc que não nos envergonhe; e não temos nada de jeito em casa. Nem peixe fresco, nem peça de carne limpa. E de forma salvadora nos lembramos da carne migada que sobrou ontem do hamburger do miúdo... dois tomates esquecidos, um pouco de queijo no frigorífico, e um spaghetti salvador, coisa assim...
E lá vamos nós, numa espécie de versão de sopa da pedra à italiana, feita a partir de coisa nenhuma para a eterna busca de sabores... De facto - com uma habilidade aldrabativo-criativa que se lhes reconhece internacionalmente e uma base extremamente simples - eis que avançamos para uma tomatada, com muita cebola, azeite e alho; uns cogumelos, uma saqueta de spagethi e umas raspas de queijo que estava esquecido no frigorífico, umas ervas...etc 
E, subito, - se confeccionarmos com amor e algum "temple"- consegue-se um brilharete imenso! Fácil. E verificamos também, no fim, que apenas gastámos 1,1€  por porção (ou, provavelmente, no jantar completo...) e que acabamos recebendo imensos elogios de tais amigos. 
Eis, portanto, uma gastronomia simples, eficaz, saborosa. Ok. Mas longe de merecer, a meu ver - tanto pela repetição de ingredientes, como pela relativa pobreza e simplicidade...- nem a fama mundial que tem, nem o preço que se pratica... Mas adiante.
Com efeito, caneloni, tagliatelli, spaghetti, lasagna, pizza, macarroni, fusili, etc... para mim, serão sempre "as mil e uma engenhosas formas de cozinhar farinha"... Com mais ou menos cebola, mais alho, mais orégãos, mais carne migada, mais ou menos tomate, seco ou maduro, mais ou menos queijo, umas raspas de coisa nenhuma e, sobretudo, mais ou menos engenho...Está bem. Não é exactamente assim. Eu sei. Mas quase.
Acontece que bons amigos, residentes na costa vicentina, há muito queriam visitar tal "Bistro"! Bom... vamos  então comer italiano! Ainda perguntei se havia risottos - variante de que gosto bastante...- mas qual quê? O chefe não está para aí virado, portanto cumpra-se o destino; e em Aljezur... sê romano!...
Cozinha de autor? Ok, de vez em quando, há que experimentar sabores diferentes e um tanto fora da nossa própria preferência; haja gosto de viver e espírito aberto.
Primeira reacção - Eis um espaço inusitado; pois, em plena costa vicentina, em vez de se servir peixe fresco, grelhados ao ar livre, caldeiradas e cataplanas, se optou por outro conceito - Haute cuisine ou cozinha de autor, se preferirem.
Confesso que os dedos dos pés se me arrepiam quando ouço e leio que abriu um "bistro", ou uma "brasserie", ou algo com uma qualquer classificação assim, pretensiosa, estrangeirada e irregular. Sou português; e possuímos neste nosso país uma culinária fabulosa em variedade, ingredientes, sabores, riqueza e inventiva de confecção. Mas o conceito ali, foi precisamente fazer diferente, num Algarve que ainda sabe a Alentejo e - apesar da pouca distância do mar - para ali convergiram os esforços e saberes de "alta costura" do chefe Luigi e sua tripulação.
Espaço é um tanto modernista, chocando com o conceito de snack de beira de estrada que grassa por todo o país. Surge com um visual moderno, minimalista, elegante sem descurar alguma rusticidade, tanto nos tectos de madeira, como no exterior, onde ostenta um espaço de jardim "rocaille" e uma esplanada simpática.
O calor que se fez sentir obrigou-nos a optar pela sala, mas notei que não há ar condicionado, - o que para a região e com o tempo que se avizinha - não parece muito "branché" nem elegante.
O espelho de parede parece ser posto apenas para clientes acima dos 2 metros de altura mas o revestimento a tábuas resulta,  embora tudo respire um certo ar artesanal, talvez propositado. Casas de banho simples, sem cabides; e toalha para limpar as mãos apenas no lavatório exterior. Chão em mosaico hidráulico, paredes e cores gerais dentro da paleta de brancos e cinzentos.
Carta de vinhos não muito extensa mas variada, com alguns vinhos italianos e portugueses; e, sobretudo, muito bem feita, - com as castas, os estágios em casco e em garrafa e os tempos de maturação. Assim sim.
Não há amuse bouche especial para ninguém. Couvert trivial e alfaias ao dispor em balde de latoaria - uma ideia de  agradável colorido local. Manteiga de autor e pão (de alho?) cortado. Azeitonas preparadas, apresentadas num boião de vidro. Ao indagarmos "onde?..."-  responderam-nos: - "ponha os caroços na tampa do boião!"  - Não gostei. 
Pedi guardanapo de pano, mas também não havia. Para um restaurante gourmet e com nome finório... a coisa começava mal.
Em almoço para 4 pessoas houve a possibilidade de experimentar varias hipóteses, pois a casa admite um menu de degustação para duas pessoas, com direito a 4 opções; tudo a um preço de cerca de 30 euros. 
Pedimos vinho da casa, maduro, algarvio, que cumpriu sem deslumbrar.
Deu para provar uma tempura de camarão em cama de rúcula e com um molho agradável (tempura é apenas o nome chique e japonês para algo que nós chamaríamos fritar algo envolto em polme, mas pronto, chamemos-lhe assim...) uns raviolli com camarão e courgettes - no género, prefiro sinceramente um bom rissol de camarão a estes pretenciosos raviolli de carne; mas enfim...não desonraram.
Provei ainda um filet mignon de porco preto extremamente leve, macio e muito simpático, um gaspacho com verduras grelhadas, batata doce laminada, uns camarões tigre que não me deslumbraram especialmente, mas cumpriram; e um tal country não sei quê com um chèvre esbraseado, cujo fomos menos ortodoxamente derramando no pão, pois estava simplesmente delicioso. 20 valores.
Não gostei do decantado prato de mil folhas de bacalhau, (em cama de couve roxa caramelizada, suponho). A crosta cumpria mas faltavam, no mínimo, 999 folhas para poder ter tão pretensioso e elusivo nome...
Como sobremesa, todos provamos - ao critério do funcionário Pedro - uma mousse muitíssimo bem apresentada, mas que nada de extraordinário nos trouxe, e um tiramisu em boião de vidro - esse sim!...- de dizer verdadeiramente "bate-me agora, que eu gostei demais!" Espectacular! Bravo!
Conclusão: - Para quem quiser gastar uma noite diferente da oferta habitual na região, é de facto cozinha de autor e... muito bem ... Voltem; têm a minha tolerância e bênção gastronómica. 
Eu... experimentei, gostei de umas coisas, de outras nem tanto, mas fico por aqui. Não deslumbrei. Continuarei a preferir uma boa caldeirada...
Ah! E achei um tanto caro... Mas só para minha opinião - os parceiros gostaram. Sou eu que sou muito agarrado, já sei. 
Serviço eficaz e simpático, sem fulgores.
Obs - Caramba! Acho que nunca escrevi tanto nome estrangeiro e em itálico. Estou a ficar finíssimo! :)

Sala/Mobiliário ***; Porções***; Tempo de espera****; Confecção ****; Serviço ***; WC **; Estacionamento *****; Ambiente ***; Grau de satisfação geral ***
Preço $$$$