quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Restaurante o Cortador Oh Lacerda!

Restaurante Cortador Oh Lacerda!

Av. Berna 36 – A

1050 Lisboa

Há espaços de restauração que mereciam a classificação oficial de museus particulares. Pela qualidade, pelo ambiente, pelas peças expostas, pela decoração e pelo coleccionismo patente do anfitrião. Pela beleza e aconchego do espaço destinado aos comensais; pela história de tantos dias e noites e respectivas conjurações, negócios, amores e desamores que dali houveram raiz e discussão; pelo prazer de uma noite especialmente convidada; por evocação de nós mesmos, noutros tempos mais recuados; por tudo isso, o oh Lacerda! é um espaço assim, que existe em Lisboa, meio escondido numa porta discreta, frente à sede da Gulbenkian, na Av. de Berna.

Conheço o Restaurante há uma vida. Nascido do que foi outrora um talho, aproveitou com saber a sinergia desse culto, instituindo um bife à cortador de grande celebridade, putativamente em vigor desde 1943. Não posso garantir, não era vivo ainda…

Contudo posso confirmar a sua qualidade e não me custa considerá-lo como um dos históricos bifes de Lisboa, a par - para mim - com os mais conhecidos do Ribadouro, Trindade e Portugália – que se tornaram produtos de qualidade estandardizada, por vezes duvidosa e típicos de cervejaria - mas sobretudo a par com o da Casa York, ainda no activo e recomendável, segundo julgo. Outros haverá.

Falo do que sei em relação ao bife, mas garanti-vos uma isenção que, por vezes, me custa manter, quando as coisas não correm bem. Quase prefiro o silêncio quando algo desacertado acontece. Mas prometi a mim mesmo que não era por isso que deixaria de dizer a verdade. E não contem comigo nunca para desconstruir por gosto, mas também nunca para tecer loas por simpatia. Lamento, mas a verdade acima de tudo, ou não estaria a fazer critica gastronómica séria. As coisas na minha última visita, é um facto, não correram totalmente ao nível exibicional a que estava habituado no velho Lacerda.

A casa continua a ter um Senhor na sua gerência, o ambiente geral é descontraído, mas elevado e de charme, as molduras com colecção de notas de todo o mundo são impressionantes, o ar um pouco retro ajuda a enquadrar o espírito, a iluminação é sábia. O pão saloio vem de Mafra e vai à mesa em saca de pano, enfim, um espaço evoluído e sabedor da velha escola de restauração lisboeta. Uma sala não muito grande, mas nobre e simpática, de imensos pergaminhos.

Entradas a gosto, sobretudo paiola - óptima, de cura leve - e queijo de ovelha. Uma garrafeira completa, muito extensa, com divisão bem feita por regiões e donde escolhi um tinto Monte das Servas que cumpriu e constitui uma boa solução, sem entrar em preços proibitivos.

Acompanhado que estava, foram pedidas pataniscas e arroz de pato. Porém, as pataniscas - embora nos garantissem que feitas ao momento – estavam algumas de massa crua, outras passadas de mais, vieram frias e com pouco bacalhau, numa primeira surpresa negativa da noite. As pataniscas de bacalhau têm de ser uma festa desbragada de sabor e regionalismo. Uma festa portuguesa. Estas não.

O arroz de tomate que acompanhava estava de boa confecção, embora fosse seguramente aquecido do almoço, tal como o arroz de pato, saboroso e equilibrado, mas sem deslumbrar.

Nas sobremesas optei por uma tarte de maçã e passas, que cumpriu e estava muito bem confeccionada.

O serviço foi, como sempre, atentíssimo e cheio de charme, na maior parte das vezes pelo próprio anfitrião. Um cavalheiro.

A merecer sempre uma visita, como espaço de referência e restaurante emblema de Lisboa, mas a carecer, sobretudo aos jantares, de uma revisão de consciência na forma de preparo, apresentação e aquecimento das doses.

Estacionamento em parque subterrâneo pago, não muito longe, senão… impossível.

Resumo:

Sala/Mobiliário ****

Porções***

Tempo de espera ***

Confecção ***

Serviço ****

WC ***

Estacionamento **

Paisagem/Ambiente ****

Grau de satisfação geral ***

Preço $$$

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

O polvo unido jamais será vencido!

Temos uma das mais gulosas e saborosas gastronomias do Mundo.

Corri já a minha parte dele para o poder afirmar. Sou, além disso, dotado geneticamente de uma aristocracia de palato e gosto requintado, o que me permite distinguir uma vieira fresca de outra congelada, e apreciar águas e outros mais encorpados líquidos com a certeza de um golpe, o critério de um mestre e o sentido crítico de um gourmet.

Nas horas vagas, impenitente e mártir, cozinho. Entro nessas ocasiões em elevado transe laboratorial, produzindo ácidos úricos, colesteróis e outras magias alquimistas, sápidas e nocivas, de que tento ter tempero, punho e rédea, mas de que também não enjeito nem o pecado nem o sabor.

Somos todos dessa mesma matriz, mesmo os enjoados da vida. Somos portugueses.

Há sabores nacionais que são, de certo modo, uma afirmação de nossa diferença e individualidade. Do próprio património cultural.

O bacalhau e as suas mil e uma formas de cozinhar, a sardinha assada com pimentos, as conservas de atum, as caldeiradas, os presuntos, as artes de fumeiro e salmoura em geral e tantos outros hábitos alimentares, enraízam fundo no cromossoma do povo e integram uma idiossincrasia, uma gesta, uma escolha, um espaço próprio. Uma afirmação nacional.

O gomoso e magnífico leite-creme da minha avó, queimado de açúcar amarelo com o velho ferro de tostar, seria hoje considerado um perigoso produto alimentar, capaz de matar qualquer um e de encerrar um estabelecimento de prestígio como o Tavares Rico.

Paralelamente, os queijos que o pastor João Serra faz em Alcafache, escondido na sua queijeira clandestina – para chamar nomes pomposos ao tugúrio onde os cura… – são mais saborosos que os serras autorizados, fabricados em cozinhas de alumínio e inox. Porquê, não sei. Mas são.

A minha velha faca de bocas pronunciadas, de tão gasta e afiada na mó de argila, aquela mesma que levo para toda a parte quando é suposto cozinhar, e que me dá confiança no descasque e eficácia no golpe, essa, nem pensar em cozinhar com ela. Está fora da norma e não é mais que um pedaço de lixo, na óptica oficial de quem inspecciona as cozinhas desse país secreto e perigoso. Porque, por trás do sorriso farisaico do chefe de sala, lá nos recônditos e sinistros bastidores de tenebrosos restaurantes...há sempre atentados que desconhecemos - comida podre, facas duvidosas, aventais por engomar.

Daí tornarem-se urgentes medidas drásticas.

Com efeito, as mãos de vaca com grão, por exemplo, terão de acabar. Está provado que as vacas não usam protecção nas patas durante o seu pastoreio o que indicia hábitos conspurcados e de péssimo futuro. O mau hábito de defecarem para baixo permite um convívio íntimo das fezes com as citadas patas, pelo que muitas delas mostram sintomas de inflamação interdigital não combatida. O próprio grão não foi calibrado de acordo com a escala de programação, cor, emissão de CO2 e medidas autorizadas pela CEE.

Teria, de resto, de fazer-se um curso – de difícil aceitação e tolerância às autoridades europeias que superintendem a higiene do que comemos – para lhes conseguirmos explicar que neste país comemos pezinhos de coentrada, bucho recheado, dobrada com feijão branco, tripas grelhadas, enguias de ensopado, alheiras de caça, perdizes mortas de véspera, passarinhos fritos, patos e galos caseiros de saúde nunca controlada, mioleiras, ovos não carimbados postos por galinhas deseducadas e pica no chão, couves do quintal, batatas e feijões igualmente sem inspecção botânico/sanitária, azeitonas apanhadas directamente das oliveiras e não compradas em frascos, chouriços e morcelas de sangue defumados no nosso fumeiro de azinho, presuntos provenientes de porcos em vida provavelmente nauseabundos, vinho pisado com os pés, queijos de origem em leite proveniente de tetas duvidosas e, por vezes, coagulados com um cardo bravio que há nos montes, sandes de courato vendidas em carripanas, sem o mínimo de condições, à beira da estrada, com os carros a passar ao lado, em dias de futebol!

E explicar-lhes que, contudo, sobrevivemos. Morreriam de susto.

Mas há mais.

Juntemos os bolos e barquilhos da caixinha mágica da praia, os gelados que ao fim de uma manhã de areal já estão mais desfeitos que a neve em Agosto, castanhas assadas em carvão no meio dos cavalos da Feira de S Martinho, a neve doce tão pedida pelos miúdos, aquela que é enrolada no pau em feiras e romarias pelo país fora, e as farturas e churros feitos na frente de toda a gente, sem higiene nem preparos, cheios de óleo e canela duvidosa, embrulhados em papel pardo, rasgado sem norma nem preceito.

Juntem-se os saborosos e nojentos caracóis, apanhados nos mais inverosímeis sítios, inclusivamente cemitérios; os percebes; as lapas, cadelinhas, berbigões, ouriços e mexilhões roubados na maré baixa, em areias e rochas, repletas de um fétido cheiro a algas e a mar.

E, por fim, os próprios sargos, robalos e restantes peixes, apanhados a comer a babugem por inconscientes pescadores à linha, que arriscam a vida em erectas falésias, e que não cumprem, obviamente, as mínimas normas de segurança alimentar, pois alimentam-se de restos e despejos naturais e marítimos não controlados, de proveniência tão sórdida que até me escuso a comentar.

Da carne, nem sequer falo. Nenhum nutricionista a recomenda, nem há matadouros onde o sacrifício das rezes seja precedido dos actos religiosos recomendáveis e piedosos. O pecado da carne estará para sempre banido do nosso viver. Só argentina e congelada. Ponto. Parágrafo.

Feche-se o país e comamos todos… não sei…talvez pão. Mas do embalado, de origem escandinava, em tostas integrais, vacinados contra a gripe e tudo.

O pão do Alentejo será proibido em breve. Só em forno eléctrico.

O forno a lenha tornar-se-á um objecto de museu.

Decorrente disso, cabritos de todos os montados: – respirem de liberdade!

Pargos no forno: - a vossa hora é de vitória!

E também vós, couves e alfaces da horta própria, espigai à vontade – não podeis ser consumidas. Estais finalmente livres!

Adeus sabores de Portugal. Europa oblige.

Tias velhas, avós, mães, enfim, todas vós, hábeis, exímias cozinheiras, – acabou tudo! Agora fazei costura.

E nós próprios cozinheiros e amantes do viver, Epicuros serôdios e insensíveis. Devíamos ter era vergonha.

O país regressa dentro de momentos, num outro século qualquer.

Quem quiser associar-se, junte a sua à nossa voz.

Preparemos a passagem à clandestinidade

Eu por mim, de resto – nisto e naquilo – também já sou clandestino há tanto tempo que nem estranho...

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Restaurante Típico O Alpendre - Arraiolos

Bairro Serpa Pinto - Arraiolos

Entra-se em Arraiolos e sobe-se o que parece ser a ultima rua, em direcção ao topo da vila. À esquerda, ao alto, vai encontrar o Alpendre, um Restaurante porto de abrigo que recomendo.

Tem a dignidade e a decoração típicas alentejanas e a amizade calorosa de um povo amigo e são que sabe receber.
Carta de vinhos generosa onde avultam os alentejanos brancos e tintos para aquecer a alma. Um dos poucos sítios onde assisti a um corte de gargalo, feito com mestria.

A partir das entradas que o vão começar a encher, perca-se depois com a Sopa Cação, a Vitela do Montado, as Migas de Espargos,Tomate e Bacalhau, a carne de Porco Preto.

Enfim, um mar de erros dietéticos que nunca sabemos se o são ou não, pois afinal o povo alentejano interior acaba por durar nem mais nem menos que o algarvio litoral que só coma peixe. Ou o não fosse a dietética uma ciência redonda, de conhecimentos insuficientes, indicações equivocas, redundâncias e acusações por provar, modas refundidas e fundamentalismos doentios.

Quantas vezes a sardinha já foi boa, e depois má, e depois outra vez boa à luz dos dietistas? E os azeites? E a confecção com banhas e toucinhos? E a carne de porco? E o excesso de pão?

Quando me dizem mal da culinária do pão e das ervas de cheiro; da carne de porco gorda e do esturricado; das sopas e do azeite; dos produtos de fumeiro; do uso diário do vinho à refeição e muitas vezes fora dela; da confecção usando toucinhos e banhas; dos doces conventuais gordos e cheios de ovos, eu dou por mim a pensar num casal que conheci lá pelos lados de Alter, que por coincidências da vida se tornaram meus sogros, e que nunca conheceram outra alimentação. Vidas saudáveis e plenas. Um bebia bem, morreu cedo - com 91 anos. A outra figurinha, sua mulher, continua com 95 lúcida e atenta, uma cabeça de invejar e uma memória e movimentação com que eu não sou capaz de competir.

Porco? Sempre. Pão? Sempre. Água do poço. Vinho da lavra. Paios e enchidos caseiros. Azeitona curtida do beirado.

E mais. Banha e toucinho como gorduras de confecção. Gado caseiro, não vacinado mas de confiança. Galinhas pica no chão, borregos, galos, porcos, coelhos bravos.

Não sei como. Esta gente assim acaba com os nutricionistas. Assim não vale.

Por isso mesmo, se for ao Alpendre, coma os paios e os queijos de entrada, vicie-se nas migas de espargos, e trinque à vontade o porco preto. Pode estar a assinar a sua sentença de morte segundo alguns dietistas, mas olhe que a prática vivida do povo alentejano diz que não...

À sobremesa, se houver, escolha o morgado, ou o Don Manuel, desculpem lá, esqueci o nome por não ter apontado na altura. Um de cobertura branca. É de cair de prazer, tipo pão de rala. Um sonho.

Estacionamento por vezes problemático - rua estreita. Ambiente típico e simpático. 70 mesas com guardanapos de pano, bem apresentadas. Encerramento à 2ª feira

Cozinha Tradicional Alentejana no seu melhor. Não é preciso ir ao Fialho pagar o dobro. Fique por aqui. Vá por mim. Merece uma visita.


Resumo:

Sala ****

Mobiliário ***

Porções***

Tempo de espera **

Confecção ****

Serviço ****

WC ***

Estacionamento **

Paisagem/Ambiente ***

Grau de satisfação geral ****

Preço $$$

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

classificações

Tabela de classificação

* (francamente mau)

** (pode melhorar)

*** (satisfaz)

**** (bom)

*****(muito bom)

Preço

Muito barato ($)

barato ($$)

médio ($$$)

caro ($$$$)

bastante caro ($$$$$)

Restaurante Casa das Enguias - Boquilobo - Ribatejo

O culto da enguia...

Algumas terras se gabam de deter o exclusivo da culinária da enguia.
São assim famosas as enguias do Infantado, da foz do Arelho, das Lagoas de Óbidos, Stº André e Melides, da Murtosa, Porto Alto, etc
A forma de preparar tal gordo e saboroso peixe varia de terra para terra, mas hoje abordarei o Boquilobo, nome estranhíssimo, correspondendo a uma povoação mínima - de umas 30 casas no máximo. Um estranho mas invulgar sucesso na comercialização de tal anguiliforme.
É a terra natal dessa referência da democracia e da luta pela liberdade que foi Humberto Delgado. Ainda hoje, fruto desse ícone local, muitos Humbertos houveram dele nome pela região. Freguesia de Brogueira, concelho de Torres Novas. Fixe.
O Manuel Cepo, aliás Casa das enguias de seu recente nome, é uma sala grande, espaçosa e moderna, fruto de recente mudança de um velho espaço onde tudo começou. Mesas e cadeiras confiáveis, de madeira, postas de forma simples mas legítima, simpatia no servir com afabilidade e eficiência. Café na entrada para convívio local, nao separado do restaurante, funcionando ambos em espaço aberto . Guardanapos e toalhas de papel. Aos fins de semana algum ambiente ruidoso é previsível. As casas de banho são limpissimas e espaçosas.
Lista de vinhos não muito extensa, digamos talvez razoável, mas com relevo para os vinhos Ribatejanos. Dentre estes, o Quinta de S. João Baptista, compromisso de preço e gosto que não envergonha. Curiosamente, é um vinho criado ali mesmo ao lado, em vinhas extensas de vários hectares, entre Riachos e a aldeia onde fica o restaurante.
Mas permitam-me derivar um pouco.
Várias alternativas existem, com efeito, dentro da aldeia, - onde ocorre um festival anual da enguia, normalmente no fim do Verão - e há, no mínimo, 3 hipóteses para o consumo desse petisco desconhecido que é a enguia grelhada. Qualquer um deles é de visitar.

O Retiro da Fataça, é famoso pelo tratamento do peixe de que toma o nome. A fataça é um peixe branco de tamanho médio, que vem limpo e gordo do Tejo no Almourol (ou da terra de Saramago, ali tão perto, a Azinhaga) enquanto em Lisboa - onde se chama taínha - tem sabor a óleo, devido à poluição do rio nas docas.... Mas este restaurante possui também enguia, geralmente eiró ou iró, um pouco mais grada, para grelhar; ou mais pequena, nesse caso indicada para fritar.
O outro, mesmo em frente do Manuel e primo do mesmo, é o Zé Cepo, com uma miga divinal que - mais que por acompanhamento - é quase uma razão de visita obrigatória em si mesma. Quanto a mim, é a versão local mais próxima da miga original do velho "tubarão do Tejo", seu criador e do Toino Matos pescador, seu herdeiro, que o chegou a confeccionar para -espanto dos espantos!...- a própria Rainha de Inglaterra. Uma delícia feita de refogado lento de ervas várias, mistura de pães esfarelada à mão, nunca à máquina, algum bacalhau desfeito em algodão e muita mão, dada pelo saber.

Mas voltemos ao Manel.

A oferta, embora variada, vive à base da grelha e do ensopado de enguia, feito com iró média a grada, bastante hortelã, como pertence, pão e tempero de bom equilíbrio. Para quem pensasse que só os ensopados do Porto Alto é que satisfazem, ficamos com uma alternativa muito credível, em muitos aspectos até, superior.
De peixe, há também alternativas, que vão das lulas e chocos, à fataça e ao bacalhau. Tudo na brasa, no ponto e com arte. O dono da casa tem uma vida de prática e nao deixa esturrar as coisas...
Para os iniciados nas artes da culinária da enguia, dado o preconceito pela fusiforme criatura, aconselha-se talvez a enguia frita acompanhada de miga, que se comporta como iniciação adequada e geralmente melhor tolerada. Deve ser acompanhada de molho vinaigrette para desenjoar e salada bem guarnecida. Coma à mão, desiniba-se, não está no Gambrinus. Se não conseguir superar o preconceito... é pena, mas tente as febras da casa, enormes gordas e saborosas como poucas.
Passe pelas sobremesas, onde se aconselha, se houver, o fidalgo, o bolo de bolacha, o melão - na sua época - o pudim de café ou o pudim de ovos da casa, gordo pesado e com a consistência dos mestres. No fim tente o bagaço caseiro. É um espanto e um segredo bem guardado de digestão sem problemas.
Estacionamento razoável no largo fronteiro e no parque próprio do restaurante, um pouco distante, mas muito útil em dias de maior aperto. Visita altamente recomendável e compensadora.
Vá ao Boquilobo e espreite a casa museu Humberto Delgado, o homem que ameaçou demitir Salazar.
Em terra de homens de coragem come-se bem, garanto.



Resumo:

Sala ***

Mobiliário ***

Porções****

Tempo de espera ***

Confecção ****

Serviço ***

WC ****

Estacionamento ****

Paisagem/Ambiente **

Grau de satisfação geral ****

Preço $$

os Álvaros do sul

Terei de falar deles assim, para que um dia, com mais tempo, me dedique a cada um com o detalhe merecido.
Um situa-se na Urra, localidade na beira de Portalegre e é um mestre na arte de receber com simpatia no seu minúsculo restaurante, onde avulta uma tomatada de pezinhos, galinha caseira, lacão e umas coisas que não vos conto mais.
Os vinhos são excelentes e tem sempre uma novidade da terra em redor. Foi ali que 1º descobri o Convento da Tomina, o Subsídio, tantas pomadas santas alentejanas, por vezes até particulares não excluidas.
E só as entradas, meu deus...

O outro Álvaro fala-nos de uma outra delicadeza eterna que reside nos sabores do mar e situa-se em Vila do Bispo.
Há tesouros escondidos e perdidos na nossa costa que os meus amigos não imaginam... ouriços, lapas, perceves... sei lá...
O peixe é pescado à cana pelo Mariano, sogro do Álvaro.
O mexilhão entra do mar para a cozinha, ali à nossa frente. Um espectáculo.
São ambos Álvaro e a eles voltarei com pormenor. Fica o aviso.

domingo, 28 de outubro de 2007

o escondidinho - Lagos

Beco do Cemitério
Lagos

encerra aos domingos

O Gilberto achou o sítio sossegado e apesar da proximidade do cemitério esmerou-se por dar àquele beco um ar familiar e tranquilo onde, em tertúlia, os amigos se sentissem bem.
Estava criando nesse momento, sem saber, um dos lugares secretos de referência do litoral algarvio, onde se come do peixe mais fresco e melhor grelhado que pode desejar-se na vida.
E, para mim, a tasca mais simpática de Lagos.
Hoje, tantos anos passados, as mesas cá fora são, por vezes, disputadas em bichas de hora e as paredes estão repletas de documentos e relíquias, comprovativos de prazer e alarde gastronómico.
São certificados de enormes e pantagruélicos almoços e jantares onde se registam, escritos na cal dos muros exteriores, recordes pessoais, poemas de agrado e devoção e excessos inesperados. Tudo autenticado e certificado pelo próprio, que de tal modo leva a sério o assunto que promete borla a quem coma as quarenta sardinhas da praxe.
A simpatia do patrão é contagiante e a sua maior alegria parece ser ver os clientes comendo peixe atrás de peixe até lhe darem conta das caixas todas. E vem saber em mão, de mesa em mesa, se o peixe está bem, ou se tem de preparar alternativa.
Por isso mesmo, a coisa passa-se assim: Você senta-se e já está a comer. Depois... bem, depois é hábito da casa o peixe sair directo da grelha para o seu prato, e ir passando sempre até ter de recusar, por não poder mais de prazer, luxúria pura e medo de não se conseguir levantar.
Já aconteceu a casa fechar e aparecer na porta o seguinte letreiro: Hoje não abro por não ter conseguido encontrar peixe à altura da minha clientela. Gilberto.
E, ao contrário de um qualquer autor estratega de marketing, aqui sabemos que é rigorosamente verdade. O homem do Rogil não tem estratégias nem mente.
A maior dose de saída, em termos de preferência, nesta casa pequena - e, de facto, escondidíssima - é o peixe fresco.
Entenda-se, durante o Verão, o carapau (médio, divinal e perfumado como nenhum outro...) e a sardinha; e durante o período de defeso destes, o robalo e a dourada de mar (se forem de aviário o Gilberto avisa sempre os amigos menos entendidos no assunto...), o besugo, o espada, o sargo - melhor a partir de Janeiro - por vezes o salmonete.
Tudo acompanhado com a batata cozida com alho e oregãos, à algarvia.
Não é raro ver o peixe chegar no balde do pescador e entrar directo para a cozinha, sendo o negócio feito, ali mesmo, à frente do cliente.
Ao fim de umas idas fica-se com o vicio. Que apenas se deve transmitir a poucas e muito escolhidas pessoas, entre o mundo de amigos do peito e da mesa que nos mereçam tão valiosa informação. Não exagere. Filtre bem. Seleccione.
Casas de banho exíguas, estacionamento impossível, filas intermináveis, vizinhança sossegada (cemitério velho de Lagos...), luxos nulos, mesa e bancos corridos e toalhas de papel, fumo na esplanada, paredes todas escritas, televisão acesa, ambiente popular e barulhento, mas o melhor peixe na grelha da cidade. De muitas grelhas de muitas cidades.
Questão de fazer opção e escolher.
Eu gasto. E, como digo na canção, quem não gosta, não gaste, deixe ficar...
Os devotos agradecem.

Resumo:

Mesas e cadeiras *

Porção *****

Confecção*****

Tempo de espera ***

Serviço ***

WC *

Ambiente/paisagem *

Estacionamento *

Grau de satisfação geral ****

Preço $

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

restaurante o afonso

Restaurante O Afonso
Mora

Estamos a falar de um espaço central na vila de Mora, onde houve a simpática ideia de construir um fluviário, iniciativa que bem merece uma visita.
É um concelho do Alentejo norte, distrito de Évora, bem central, e por isso, ponto de passagem natural para quem vai para Norte, e quase obrigatório para o viajante que desça do Ribatejo a terras do Sul pelo interior.
Quase diria que o Afonso é o coração de Mora, tal como o café Central é o coração da Golegã. E tantos outros Restaurantes que pela sua qualidade e preponderância determinam desvios no mapa, por vezes quilómetros extra, só para passarmos por lá. E que são de facto o centro anímico e convivencial das suas terras. O ponto de passagem quase obrigatório.
É o caso deste santuário de sacralidade gustativa e da simpatia alentejana.
Apetece provar todas as entradas, desde o paio, aos torresmos e aos queijinhos. Depois, há um menu diverso e tentador a escolher de acordo com todos os apetites e fomes do viajante ou residente.
De minha experiência aconselharia o bacalhau à Braz - um dos melhores que se pode comer neste país, seguramente - a caldeta de cação e o achigã grelhado, nos peixes; bem como o coelho à caçador (gomoso e apurado como deve ser), a perdiz à D. Bia e o arroz de lebre, sempre que haja, nas carnes.
A lista de vinhos, em especial alentejanos, é vasta e permite escolhas para todas as bolsas e palatos.
O estacionamento nem sempre é fácil, mas há um largo próximo, onde por vezes se consegue, com alguma sorte, deixar o carro.
A amesendação é em cadeiras e mesas confortáveis, com toalhas e guardanapos de pano, em ambiente de tom rústico regional mas alegre, luminoso e limpo.
As sobremesas são uma tentação demoníaca. São os queijinhos de Mora, por vezes o morgado, o pudim de café, enfim, perdições.
Deixo uma nota especial para o facto de o achigã ser um peixe excelente e menos conhecido dos gourmets citadinos, pois não chega praticamente aos grandes centros urbanos. Este é pescado na Barragem de Montargil ali bem ao pé e tem sempre textura, frescura, corpo e sabor. Como é uma raridade, raramente perdoo.
O restaurante Afonso é, para mim, talvez, um dos melhores cem Restaurantes portugueses. Nunca tinha pensado nisso, mas um dia hei-de contá-los.
Se nunca perder qualidades, como se espera, volto sempre.

Resumo:

Sala ***

Mobiliário ***

Porções****

Tempo de espera ***

Confecção *****

Serviço ****

WC ***

Estacionamento **

Paisagem/Ambiente ***

Grau de satisfação geral ****

Preço $$$ (depende sobretudo dos vinhos escolhidos)

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

as tascas do meu país

Amigos,

As tascas de Portugal são um património inestimável.
Uma enorme referencia de transmissão cultural.
Deviam estar isentas de impostos. Totalmente isentas, ou parcialmente isentas; de acordo galopante com a qualidade, a confecção, a simpatia, o deslumbre de sabores guardados.
Nelas se evocam segredos de um passado comum galaico português, os sabores da pobreza, os petiscos de avós e bisavós, as ervas de leito de ribeira e de sequeiro esquecidas por distraídos e presumidos chefs pseudo-omniscientes, as soluções simples que encheram e deliciaram gerações passadas, enfim, séculos de sapidez e indulgência.
Bem aventuradas as tascas do meu país!
Durante uma vida achei por bem resistir a divulgar estes monumentos de degustação. Para não os ver invadidos por selváticos usufruidores banais, e para que nunca tivessem o sucesso que os poderá estragar, aviltar, vulgarizar e enlouquecer aos olhos da clientela íntima e conhecedora. Crueldade pura.
Hoje aqui, neste espaço de elegância e intimidade reservado a maiores de gosto e luxúria, vos prometo abordar - devagar, para que se cumpra um ritual de passagem solene mas discreto e progressivo...- a gastronomia de algumas merecedoras tascas ocultas e secretas de Portugal.

Sempre me ensinaram, de pequeno, que a suprema aristocracia dos gostos não invalida nem exclui, a priori, nenhum sitio, nenhum sabor, nenhum aroma, nenhum local, nenhum produto, nenhuma opinião, até prova factual em seu desabono.;

Com efeito, desde que cumpridas as normas de higiene - não, desde logo, as que a ASAE estupidamente impõe , mas as que o senso comum e equilíbrio mental exigem...- uma boa confecção é sempre uma boa confecção; e um prato desastroso e mal equilibrado será sempre um desgosto ao consumidor, por muito disfarçado que esteja de criatividade estética e presunção artística, mesmo que nos seja apresentado no mais majestoso e dispendioso restaurante.

Há, com efeito, uma perversa relação habitual de causa e efeito que urge combater no que concerne ao acto de frequentar espaços de grande marcação e visibilidade. Nunca se comeu bem numa sala, só pela majestade dos seus lustres, ou o velho e respeitável dourado de sua talha.
O mesmo é válido, infelizmente, para um tipo de snack que poderia e deveria ter mantido o registo de tasca, sem aspirar a modernices nem a servir cem almoços, só para melhor facturar combatendo a crise. A crise combate-se com a qualidade e o assomo de coragem de continuar a defender a gastronomia de origem demarcada.

Neste espaço tanto se relatarão visitas e críticas a Restaurantes de referência nacional, como das ocultas e sempre esquecidas tascas onde - num outro enquadramento e clave alimentar...- se consomem bens e sabores que sejam igualmente de referenciar.

Não ressalte, contudo, deste post a falsa impressão de um desconfiado trato preconceituoso e imbecil contra a restauração de alta cozinha, que é obviamente, uma das artes maiores da existência, comparável ao saber de um Velásquez, um Malhoa, um Mozart ou um Verdi.

Mas quis salientar e relevar a intenção de aqui desejar efectuar uma abordagem ecléctica da apreciação alimentar, pois me parece que esse é sempre um lado omisso na crítica gastronómica que se faz neste país. E os espaços merecem todos a mesma atenção, ou quase.

Uns a um nível absoluto de arte e prazer conceptual; e outros ao nível da sua utilidade social e histórica na conservação de valores tradicionais.

Frequentem este blog e embarquem comigo, se possível, - ao mesmo tempo que, comentando e informando, me auxiliem... - neste tão ingrato trabalho de avaliar e descobrir o incomensurável e sempre surpreendente gosto de viver.

Restaurante Zona Verde

Restaurante Zona Verde

Rossio de S Braz, 86 – Estremoz

Uma entrada que não facilita muito, nem parece prenunciar grande festa, mas depois descobre-se um espaço traseiro agradável, bem achado, abobadado e íntimo q.b. O restaurante fica num local central da cidade e com uma ementa típica composta essencialmente pelos habituais standards alentejanos. Os pés de coentrada, a caldeta de cação, a açorda, o ensopado de borrego, etc.

São 55 lugares com boa amesendação, mesas e cadeiras confortáveis. Guardanapos de pano. Entradas pródigas e boa carta de vinhos.

Boa frequência, aparentemente de classe média alta.

Excelente cozinha com brilhantes desempenhos culinários em geral.

O ensopado de borrego, apesar de caldoso, servido em malga e com colher, merece destaque pelo bom perfume a hortelã e a ervas campestres de segredo da cozinheira, carregando de aroma um prato que, por vezes, nos é servido em forma de uma sopa aguada, sem graça nem apuro. Este não -bem apurado e calibrado. Fatias finas de pão ázimo e talvez um tudo nada de batata a mais. Mas muito bom.

Os pés de coentrada óptimos e genuínos, bem como o cação, saboroso, no ponto certo e de bom caldo. Mais não provámos. Mas pelo aspecto de tudo o que vimos passar, ficamos elucidados e o conjunto basta para darmos uma nota excelente à cozinha, sobretudo nos pratos regionais.

Um serviço com simpatia e celeridade um pouco aquém do desejado, com semblante carregado da parte de alguns empregados; mas, enfim, talvez alguma coisa tivesse acontecido de negativo no dia da nossa visita e a natureza humana é sempre sensível...

Carta de vinhos generosa e com algumas boas surpresas, inclusive o vinho da casa - tanto o branco, como o tinto.

Sobremesas regionais de boa confecção. WC pouco generosos e sem cabides. Estacionamento razoavelmente fácil.

Um local a visitar, se passar por Estremoz e dispuser de carteira confortável nesse dia. Vale a pena.

Resumo:

Sala ***

Mobiliário ***

Porções***

Tempo de espera **

Confecção ****

Serviço **

WC ***

Estacionamento ***

Paisagem/Ambiente ***

Grau de satisfação geral ****

Preço $$$$

Tabela de classificação

* (francamente mau) ;** (pode melhorar);*** (razoável);**** (bom);*****(mº bom)

Preço

muito barato ($) ; barato ($$); médio ($$$); caro ($$$$) ; bastante caro ($$$$$)

Retiro do Caçador

Retiro do Caçador – Gralheira

Castro Daire

A simpatia doce da Marisa parece vir de outro filme, numa praia mediterrânica qualquer; mas não.

Estamos na alta montanha, no meio da Serra, olhando infinitos de devastação por incêndio, floresta resistente, penhascos imensos e precipícios, velhas casas de granito, outras mais recentes que representam sustos modernistas, espaço ate dizer demais, e respiramos aquele tal ar frio mas são – estamos na serra da Gralheira.

De Castro Daire até lá são uns 15 minutos por montes e vales onde a natureza não para de nos surpreender. Riachos gorgolejam e encantam, algumas casas recentes desiludem, a paisagem esmaga-nos sempre.

Encontramos o Retiro do Caçador após nos perdermos várias vezes. Convém dizer que não se perdia nada se houvesse uns letreiros ajudando pelo caminho…à atenção da gerência, se faz favor.

Primeira desilusão – então não é que depois de tanto caminhar, entrando no velhíssimo burgo de casa graníticas, com algumas capuchinhas ainda desfilando o traje secular e os bois circulando em liberdade pelas ruelas, aparece-nos uma… pizzaria?!

Passado o primeiro espanto, subimos as escadas e começa a função almoçadeira, numa sala bem urdida aproveitando o típico granito, as madeiras e a paisagem. É no fundo um espaço bem sucedido aproveitado com gosto.

As entradas sucedem-se são constituídas por presunto serrano, paio caseiro, queijo serra artesanal, chouriça negra passada pela brasa, bola acabada de fazer, azeitonas bem temperadas e um vinho tinto muito encorpado - quase mais parecendo alentejano - mas dali bem mais perto, de S João da Pesqueira.

Quando veio a excelente sopa de legumes, o olhar também gozou com a apresentação, pois ela vinha transportada na panela de ferro. Eventualmente tratar-se-á de folclore pois, apesar de muito apaladada, não me pareceu daquelas que são confeccionadas longas horas na velha panela de ferro suspensa no fumeiro…ou pousada na trempe. Contudo, tanto a apresentação como o sabor agradaram intensamente.

Ao nosso lado, muitos comensais mais jovens e em grupo escolheram pizas! Até pareciam ser confeccionadas com uma massa bem feita, mas sinceramente, naquele ambiente arqui – português comer pizas…! Bom, prefiro nem comentar…

Provei a vitela assada (um pouco seca sem o molho, que rectificou) e as costeletas de anho (fabulosas e tenras). Ambas as carnes eram acompanhadas por arroz branco solto servido, como pertence, na alcofa de barro (óptimo), couve no ponto e batata de forno (um pouco desfeita e sem brilho).

Não havia ao que parece, naquele dia, o cabrito e, apesar de haver, também não optamos pelo lombo de porco assado.

O forno é a base da cozinha do Retiro. O pão pode assim ter o privilégio de estar quente e ser caseiro… E era muito bom e guloso, confirmamos.

Mas de certo modo o forno é também uma limitação.

O menu podia e devia ser mais exploratório das delícias gastronómicas serranas. Há assim, um mundo de sabores que não encontrámos. Mas os que encontrámos estavam muito razoáveis e não desmereceram.

Podia talvez também não ser o dia para isso, uma vez que a nossa visita foi durante a semana. E a casa precata-se seguramente de outra maneira aos fins de semana…

Saliente-se o charme de estar no fim do mundo e ser servido com aparato e fartura. E com produtos, aparentemente, todos caseiros.

Um reparo apenas: - ali tão perto da região demarcada correspondente, seria a vitela de carne arouquesa? Não me pareceu…

È de voltar claro. Só aquele caminho de cortar a respiração é um emblema enorme de um Portugal que tem mais para oferecer que litoral e praias!... Para rever tudo, saborear outras matérias e para rever também o sorriso sempre meigo da Marisa, num serviço impecável e generoso.

Preço médio para a qualidade. Merece a viagem

Resumo:

Sala ***

Mobiliário ***

Porções***

Tempo de espera **

Confecção ***

Serviço ***

WC ***

Estacionamento ***

Paisagem/Ambiente ****

Grau de satisfação geral ***

Preço $$$

Restaurante Baía

Restaurante Baía – Seixal

O restaurante trata-se de um espaço bem aproveitado, entre ruas. Entramos por uma porta secular, talvez medieval e vem um simpático setter fazer de recepcionista, calmo e afável vindo de mesa em mesa para receber festas….

Ambiente descontraído mas intimo. Luz ambiente no registo ideal. Rés-do-chão baixo.

Antes que esqueça queremos salientar a simpatia do William, brasileiro de Minas Gerais e 25 % transmontano como faz questão de dizer…

E por favor em nome da beleza feminina conheçam a patroa – meu Deus… uma jovem empresária, com um sorriso permanente e uma beleza cativante – cujas poderão confirmar. E esqueçam toda e qualquer imagem preconceituosa do que a palavra patroa vos possa evocar…

Entradas e ambiente simpático. Uma sopa de lambujinhas deliciosa. 20 valores. A aconselhar sem dúvida. Depois optamos pela cataplana que se revelou interessante (talvez demasiadas natas, quando a ideia é fazer engrossar e reduzir lentamente o molho até ao melhor apuramento)

Boa sangria branca, o que nem sempre acontece. Pouca escolha de vinhos.

…Mas, já agora, quando será que - em terra de pescadores e a menos de vinte metros do Mar da palha - se começa a esquecer o robalo e a dourada manhosos de uma vez por todas?

Amesendação acertada em guardanapos e toalha de pano; decoração marítima, boas sobremesas, óptimo serviço, descontraído e afável (será de explicar ao William que tu não deve ser aplicado em Portugal com a leveza que se aplica no Brasil…) e, finalmente… conta desmedidamente excessiva para o local e a qualidade geral.

Merece nova visita. Mas preparem-se – se quiserem celebrar juntem uns 60 euros por casal, isto no mínimo… e sem grandes vinhos.

Estacionamento nem sempre fácil e música ambiente em alguns dias da semana.

Ao que parece não tivemos sorte nisso.

Resumo:

Sala ***

Mobiliário ***

Porções***

Tempo de espera **

Confecção ***

Serviço ***

WC ***

Estacionamento **

Paisagem/Ambiente ***

Grau de satisfação geral ***

Preço $$$$$

Restaurante Vilamanjar

Restaurante Vilamanjar

Edifício do Mercado Municipal

Sobral de Monte Agraço

É para mim, ainda e sempre, um pouco estranho o acto de ter de subir a um andar, que não o habitual rés-do-chão, para entrar num Restaurante. Contudo, além de isso constituir provavelmente um preconceito pessoal, o facto é que, até hoje, não tenho grande razão de queixa de nenhum caso em que tal exigência me tenha sido imposta. Ou que esse facto implicasse, per se, perda significativa de qualidade.

Neste caso, e numa situação frente à Rodoviária, com estacionamento razoável e boa visibilidade, esta iniciativa implicou o aproveitamento de um andar superior do Mercado Municipal – lembrando o famoso Restaurante Panorama de Melgaço!...

É um piso moderno, dividido em dois espaços que parecem funcionar em paralelo ou separado, conforme critérios de lotação (até 60 lugares) e conveniência. Algumas notas de modernidade e um ar limpo e dinâmico dão uma primeira nota positiva ao forasteiro.

A ementa é uma agradável surpresa do ponto de vista da criatividade em comida regional, com o seu quê de ambição no manuseamento das matérias.

É o caso da espetada de peixe com migas de brócolos, castanhas com cubos de vitela, bacalhau com queijo da serra e presunto, bife acompanhado de gratinado de esparregado e batata, ovos com farinheira e outras criativas e esquecidas artes.

A coisa acaba por ser simultaneamente simples e genuína, mas de algum modo evoluída e surpreendente, pois nem sempre na restauração nacional tais sabores são potenciados ou lembrados sequer. Com efeito, uns simples ovos escalfados com ervilhas podem ser uma solução airosa e não comprometedora, como pudemos verificar.

A sopa de peixe estava muito boa de equilíbrios e conteúdo, com coentros servidos à parte, faltando apenas o pão frito, para meu critério.

O serviço é rápido e atento, com empregados fardados de avental longo e a amesendação cuidada, com as simpáticas e envolventes cadeiras Thonet, tão a meu gosto. Guardanapos de pano e mesa coberta com toalha dupla. Centros de mesa com exotismo e originalidade.

O vinho da casa, supostamente da região, podia ter melhor escolha, pois estamos em plena zona vinhateira do oeste. Mas, para o caso de querer melhor, tem carta de vinhos bem elaborada e com escolha não muito alongada mas eficaz.

Em fim de festa, há, entre outras, uma boa sobremesa que se converteu num ex-libris da casa já conhecido - a espetada de frutos tropicais com leite creme e açúcar queimado, com o seu quê de espectacular.

Casa de banho amplas e modernas, simpatia e ambiente positivos. Preços de menu pelo menos tanto quanto me apercebi aos almoços.

Vale a pena subir ao primeiro andar do Mercado em Sobral de Monte Agraço para uma refeição. É uma boa escolha e um óptimo compromisso qualidade, criatividade e preço.

Resumo:

Mesas e cadeiras ****

Porção ***

Confecção****

Tempo de espera ****

Serviço ****

WC ***

Ambiente/paisagem ***

Estacionamento ***

Grau de satisfação geral ****

Preço $$$

Tabela de classificação

* (francamente mau); ** (pode melhorar); *** (satisfaz); **** (bom); *****(muito bom)

Preço

Muito barato ($); barato ($$); médio ($$$); caro ($$$$); bastante caro ($$$$$)