segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Restaurante Típico O Alpendre - Arraiolos

Bairro Serpa Pinto - Arraiolos

Entra-se em Arraiolos e sobe-se o que parece ser a ultima rua, em direcção ao topo da vila. À esquerda, ao alto, vai encontrar o Alpendre, um Restaurante porto de abrigo que recomendo.

Tem a dignidade e a decoração típicas alentejanas e a amizade calorosa de um povo amigo e são que sabe receber.
Carta de vinhos generosa onde avultam os alentejanos brancos e tintos para aquecer a alma. Um dos poucos sítios onde assisti a um corte de gargalo, feito com mestria.

A partir das entradas que o vão começar a encher, perca-se depois com a Sopa Cação, a Vitela do Montado, as Migas de Espargos,Tomate e Bacalhau, a carne de Porco Preto.

Enfim, um mar de erros dietéticos que nunca sabemos se o são ou não, pois afinal o povo alentejano interior acaba por durar nem mais nem menos que o algarvio litoral que só coma peixe. Ou o não fosse a dietética uma ciência redonda, de conhecimentos insuficientes, indicações equivocas, redundâncias e acusações por provar, modas refundidas e fundamentalismos doentios.

Quantas vezes a sardinha já foi boa, e depois má, e depois outra vez boa à luz dos dietistas? E os azeites? E a confecção com banhas e toucinhos? E a carne de porco? E o excesso de pão?

Quando me dizem mal da culinária do pão e das ervas de cheiro; da carne de porco gorda e do esturricado; das sopas e do azeite; dos produtos de fumeiro; do uso diário do vinho à refeição e muitas vezes fora dela; da confecção usando toucinhos e banhas; dos doces conventuais gordos e cheios de ovos, eu dou por mim a pensar num casal que conheci lá pelos lados de Alter, que por coincidências da vida se tornaram meus sogros, e que nunca conheceram outra alimentação. Vidas saudáveis e plenas. Um bebia bem, morreu cedo - com 91 anos. A outra figurinha, sua mulher, continua com 95 lúcida e atenta, uma cabeça de invejar e uma memória e movimentação com que eu não sou capaz de competir.

Porco? Sempre. Pão? Sempre. Água do poço. Vinho da lavra. Paios e enchidos caseiros. Azeitona curtida do beirado.

E mais. Banha e toucinho como gorduras de confecção. Gado caseiro, não vacinado mas de confiança. Galinhas pica no chão, borregos, galos, porcos, coelhos bravos.

Não sei como. Esta gente assim acaba com os nutricionistas. Assim não vale.

Por isso mesmo, se for ao Alpendre, coma os paios e os queijos de entrada, vicie-se nas migas de espargos, e trinque à vontade o porco preto. Pode estar a assinar a sua sentença de morte segundo alguns dietistas, mas olhe que a prática vivida do povo alentejano diz que não...

À sobremesa, se houver, escolha o morgado, ou o Don Manuel, desculpem lá, esqueci o nome por não ter apontado na altura. Um de cobertura branca. É de cair de prazer, tipo pão de rala. Um sonho.

Estacionamento por vezes problemático - rua estreita. Ambiente típico e simpático. 70 mesas com guardanapos de pano, bem apresentadas. Encerramento à 2ª feira

Cozinha Tradicional Alentejana no seu melhor. Não é preciso ir ao Fialho pagar o dobro. Fique por aqui. Vá por mim. Merece uma visita.


Resumo:

Sala ****

Mobiliário ***

Porções***

Tempo de espera **

Confecção ****

Serviço ****

WC ***

Estacionamento **

Paisagem/Ambiente ***

Grau de satisfação geral ****

Preço $$$

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

classificações

Tabela de classificação

* (francamente mau)

** (pode melhorar)

*** (satisfaz)

**** (bom)

*****(muito bom)

Preço

Muito barato ($)

barato ($$)

médio ($$$)

caro ($$$$)

bastante caro ($$$$$)

Restaurante Casa das Enguias - Boquilobo - Ribatejo

O culto da enguia...

Algumas terras se gabam de deter o exclusivo da culinária da enguia.
São assim famosas as enguias do Infantado, da foz do Arelho, das Lagoas de Óbidos, Stº André e Melides, da Murtosa, Porto Alto, etc
A forma de preparar tal gordo e saboroso peixe varia de terra para terra, mas hoje abordarei o Boquilobo, nome estranhíssimo, correspondendo a uma povoação mínima - de umas 30 casas no máximo. Um estranho mas invulgar sucesso na comercialização de tal anguiliforme.
É a terra natal dessa referência da democracia e da luta pela liberdade que foi Humberto Delgado. Ainda hoje, fruto desse ícone local, muitos Humbertos houveram dele nome pela região. Freguesia de Brogueira, concelho de Torres Novas. Fixe.
O Manuel Cepo, aliás Casa das enguias de seu recente nome, é uma sala grande, espaçosa e moderna, fruto de recente mudança de um velho espaço onde tudo começou. Mesas e cadeiras confiáveis, de madeira, postas de forma simples mas legítima, simpatia no servir com afabilidade e eficiência. Café na entrada para convívio local, nao separado do restaurante, funcionando ambos em espaço aberto . Guardanapos e toalhas de papel. Aos fins de semana algum ambiente ruidoso é previsível. As casas de banho são limpissimas e espaçosas.
Lista de vinhos não muito extensa, digamos talvez razoável, mas com relevo para os vinhos Ribatejanos. Dentre estes, o Quinta de S. João Baptista, compromisso de preço e gosto que não envergonha. Curiosamente, é um vinho criado ali mesmo ao lado, em vinhas extensas de vários hectares, entre Riachos e a aldeia onde fica o restaurante.
Mas permitam-me derivar um pouco.
Várias alternativas existem, com efeito, dentro da aldeia, - onde ocorre um festival anual da enguia, normalmente no fim do Verão - e há, no mínimo, 3 hipóteses para o consumo desse petisco desconhecido que é a enguia grelhada. Qualquer um deles é de visitar.

O Retiro da Fataça, é famoso pelo tratamento do peixe de que toma o nome. A fataça é um peixe branco de tamanho médio, que vem limpo e gordo do Tejo no Almourol (ou da terra de Saramago, ali tão perto, a Azinhaga) enquanto em Lisboa - onde se chama taínha - tem sabor a óleo, devido à poluição do rio nas docas.... Mas este restaurante possui também enguia, geralmente eiró ou iró, um pouco mais grada, para grelhar; ou mais pequena, nesse caso indicada para fritar.
O outro, mesmo em frente do Manuel e primo do mesmo, é o Zé Cepo, com uma miga divinal que - mais que por acompanhamento - é quase uma razão de visita obrigatória em si mesma. Quanto a mim, é a versão local mais próxima da miga original do velho "tubarão do Tejo", seu criador e do Toino Matos pescador, seu herdeiro, que o chegou a confeccionar para -espanto dos espantos!...- a própria Rainha de Inglaterra. Uma delícia feita de refogado lento de ervas várias, mistura de pães esfarelada à mão, nunca à máquina, algum bacalhau desfeito em algodão e muita mão, dada pelo saber.

Mas voltemos ao Manel.

A oferta, embora variada, vive à base da grelha e do ensopado de enguia, feito com iró média a grada, bastante hortelã, como pertence, pão e tempero de bom equilíbrio. Para quem pensasse que só os ensopados do Porto Alto é que satisfazem, ficamos com uma alternativa muito credível, em muitos aspectos até, superior.
De peixe, há também alternativas, que vão das lulas e chocos, à fataça e ao bacalhau. Tudo na brasa, no ponto e com arte. O dono da casa tem uma vida de prática e nao deixa esturrar as coisas...
Para os iniciados nas artes da culinária da enguia, dado o preconceito pela fusiforme criatura, aconselha-se talvez a enguia frita acompanhada de miga, que se comporta como iniciação adequada e geralmente melhor tolerada. Deve ser acompanhada de molho vinaigrette para desenjoar e salada bem guarnecida. Coma à mão, desiniba-se, não está no Gambrinus. Se não conseguir superar o preconceito... é pena, mas tente as febras da casa, enormes gordas e saborosas como poucas.
Passe pelas sobremesas, onde se aconselha, se houver, o fidalgo, o bolo de bolacha, o melão - na sua época - o pudim de café ou o pudim de ovos da casa, gordo pesado e com a consistência dos mestres. No fim tente o bagaço caseiro. É um espanto e um segredo bem guardado de digestão sem problemas.
Estacionamento razoável no largo fronteiro e no parque próprio do restaurante, um pouco distante, mas muito útil em dias de maior aperto. Visita altamente recomendável e compensadora.
Vá ao Boquilobo e espreite a casa museu Humberto Delgado, o homem que ameaçou demitir Salazar.
Em terra de homens de coragem come-se bem, garanto.



Resumo:

Sala ***

Mobiliário ***

Porções****

Tempo de espera ***

Confecção ****

Serviço ***

WC ****

Estacionamento ****

Paisagem/Ambiente **

Grau de satisfação geral ****

Preço $$

os Álvaros do sul

Terei de falar deles assim, para que um dia, com mais tempo, me dedique a cada um com o detalhe merecido.
Um situa-se na Urra, localidade na beira de Portalegre e é um mestre na arte de receber com simpatia no seu minúsculo restaurante, onde avulta uma tomatada de pezinhos, galinha caseira, lacão e umas coisas que não vos conto mais.
Os vinhos são excelentes e tem sempre uma novidade da terra em redor. Foi ali que 1º descobri o Convento da Tomina, o Subsídio, tantas pomadas santas alentejanas, por vezes até particulares não excluidas.
E só as entradas, meu deus...

O outro Álvaro fala-nos de uma outra delicadeza eterna que reside nos sabores do mar e situa-se em Vila do Bispo.
Há tesouros escondidos e perdidos na nossa costa que os meus amigos não imaginam... ouriços, lapas, perceves... sei lá...
O peixe é pescado à cana pelo Mariano, sogro do Álvaro.
O mexilhão entra do mar para a cozinha, ali à nossa frente. Um espectáculo.
São ambos Álvaro e a eles voltarei com pormenor. Fica o aviso.