Entra-se em Arraiolos e sobe-se o que parece ser a ultima rua, em direcção ao topo da vila. À esquerda, ao alto, vai encontrar o Alpendre, um Restaurante porto de abrigo que recomendo.
Tem a dignidade e a decoração típicas alentejanas e a amizade calorosa de um povo amigo e são que sabe receber.
Carta de vinhos generosa onde avultam os alentejanos brancos e tintos para aquecer a alma. Um dos poucos sítios onde assisti a um corte de gargalo, feito com mestria.
A partir das entradas que o vão começar a encher, perca-se depois com a Sopa Cação, a Vitela do Montado, as Migas de Espargos,Tomate e Bacalhau, a carne de Porco Preto.
Enfim, um mar de erros dietéticos que nunca sabemos se o são ou não, pois afinal o povo alentejano interior acaba por durar nem mais nem menos que o algarvio litoral que só coma peixe. Ou o não fosse a dietética uma ciência redonda, de conhecimentos insuficientes, indicações equivocas, redundâncias e acusações por provar, modas refundidas e fundamentalismos doentios.
Quantas vezes a sardinha já foi boa, e depois má, e depois outra vez boa à luz dos dietistas? E os azeites? E a confecção com banhas e toucinhos? E a carne de porco? E o excesso de pão?
Quando me dizem mal da culinária do pão e das ervas de cheiro; da carne de porco gorda e do esturricado; das sopas e do azeite; dos produtos de fumeiro; do uso diário do vinho à refeição e muitas vezes fora dela; da confecção usando toucinhos e banhas; dos doces conventuais gordos e cheios de ovos, eu dou por mim a pensar num casal que conheci lá pelos lados de Alter, que por coincidências da vida se tornaram meus sogros, e que nunca conheceram outra alimentação. Vidas saudáveis e plenas. Um bebia bem, morreu cedo - com 91 anos. A outra figurinha, sua mulher, continua com 95 lúcida e atenta, uma cabeça de invejar e uma memória e movimentação com que eu não sou capaz de competir.
Porco? Sempre. Pão? Sempre. Água do poço. Vinho da lavra. Paios e enchidos caseiros. Azeitona curtida do beirado.
E mais. Banha e toucinho como gorduras de confecção. Gado caseiro, não vacinado mas de confiança. Galinhas pica no chão, borregos, galos, porcos, coelhos bravos.
Não sei como. Esta gente assim acaba com os nutricionistas. Assim não vale.
Por isso mesmo, se for ao Alpendre, coma os paios e os queijos de entrada, vicie-se nas migas de espargos, e trinque à vontade o porco preto. Pode estar a assinar a sua sentença de morte segundo alguns dietistas, mas olhe que a prática vivida do povo alentejano diz que não...
À sobremesa, se houver, escolha o morgado, ou o Don Manuel, desculpem lá, esqueci o nome por não ter apontado na altura. Um de cobertura branca. É de cair de prazer, tipo pão de rala. Um sonho.
Estacionamento por vezes problemático - rua estreita. Ambiente típico e simpático. 70 mesas com guardanapos de pano, bem apresentadas. Encerramento à 2ª feira
Cozinha Tradicional Alentejana no seu melhor. Não é preciso ir ao Fialho pagar o dobro. Fique por aqui. Vá por mim. Merece uma visita.
Resumo:
Sala ****
Mobiliário ***
Porções***
Tempo de espera **
Confecção ****
Serviço ****
WC ***
Estacionamento **
Paisagem/Ambiente ***
Grau de satisfação geral ****
Preço $$$