quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Retiro do Caçador

Retiro do Caçador – Gralheira

Castro Daire

A simpatia doce da Marisa parece vir de outro filme, numa praia mediterrânica qualquer; mas não.

Estamos na alta montanha, no meio da Serra, olhando infinitos de devastação por incêndio, floresta resistente, penhascos imensos e precipícios, velhas casas de granito, outras mais recentes que representam sustos modernistas, espaço ate dizer demais, e respiramos aquele tal ar frio mas são – estamos na serra da Gralheira.

De Castro Daire até lá são uns 15 minutos por montes e vales onde a natureza não para de nos surpreender. Riachos gorgolejam e encantam, algumas casas recentes desiludem, a paisagem esmaga-nos sempre.

Encontramos o Retiro do Caçador após nos perdermos várias vezes. Convém dizer que não se perdia nada se houvesse uns letreiros ajudando pelo caminho…à atenção da gerência, se faz favor.

Primeira desilusão – então não é que depois de tanto caminhar, entrando no velhíssimo burgo de casa graníticas, com algumas capuchinhas ainda desfilando o traje secular e os bois circulando em liberdade pelas ruelas, aparece-nos uma… pizzaria?!

Passado o primeiro espanto, subimos as escadas e começa a função almoçadeira, numa sala bem urdida aproveitando o típico granito, as madeiras e a paisagem. É no fundo um espaço bem sucedido aproveitado com gosto.

As entradas sucedem-se são constituídas por presunto serrano, paio caseiro, queijo serra artesanal, chouriça negra passada pela brasa, bola acabada de fazer, azeitonas bem temperadas e um vinho tinto muito encorpado - quase mais parecendo alentejano - mas dali bem mais perto, de S João da Pesqueira.

Quando veio a excelente sopa de legumes, o olhar também gozou com a apresentação, pois ela vinha transportada na panela de ferro. Eventualmente tratar-se-á de folclore pois, apesar de muito apaladada, não me pareceu daquelas que são confeccionadas longas horas na velha panela de ferro suspensa no fumeiro…ou pousada na trempe. Contudo, tanto a apresentação como o sabor agradaram intensamente.

Ao nosso lado, muitos comensais mais jovens e em grupo escolheram pizas! Até pareciam ser confeccionadas com uma massa bem feita, mas sinceramente, naquele ambiente arqui – português comer pizas…! Bom, prefiro nem comentar…

Provei a vitela assada (um pouco seca sem o molho, que rectificou) e as costeletas de anho (fabulosas e tenras). Ambas as carnes eram acompanhadas por arroz branco solto servido, como pertence, na alcofa de barro (óptimo), couve no ponto e batata de forno (um pouco desfeita e sem brilho).

Não havia ao que parece, naquele dia, o cabrito e, apesar de haver, também não optamos pelo lombo de porco assado.

O forno é a base da cozinha do Retiro. O pão pode assim ter o privilégio de estar quente e ser caseiro… E era muito bom e guloso, confirmamos.

Mas de certo modo o forno é também uma limitação.

O menu podia e devia ser mais exploratório das delícias gastronómicas serranas. Há assim, um mundo de sabores que não encontrámos. Mas os que encontrámos estavam muito razoáveis e não desmereceram.

Podia talvez também não ser o dia para isso, uma vez que a nossa visita foi durante a semana. E a casa precata-se seguramente de outra maneira aos fins de semana…

Saliente-se o charme de estar no fim do mundo e ser servido com aparato e fartura. E com produtos, aparentemente, todos caseiros.

Um reparo apenas: - ali tão perto da região demarcada correspondente, seria a vitela de carne arouquesa? Não me pareceu…

È de voltar claro. Só aquele caminho de cortar a respiração é um emblema enorme de um Portugal que tem mais para oferecer que litoral e praias!... Para rever tudo, saborear outras matérias e para rever também o sorriso sempre meigo da Marisa, num serviço impecável e generoso.

Preço médio para a qualidade. Merece a viagem

Resumo:

Sala ***

Mobiliário ***

Porções***

Tempo de espera **

Confecção ***

Serviço ***

WC ***

Estacionamento ***

Paisagem/Ambiente ****

Grau de satisfação geral ***

Preço $$$

Um comentário:

Anônimo disse...

Essa 'pizzaria' onde, por acaso, eu nunca pedi pizza, é um restaurante delicioso, onde os jantares se prolongam pela noite dentro - quer pela comida, quer pelo misticismo que rodeia a gralheira - mas que, só por acaso, se chama 'Recanto dos Carvalhos'... e os donos são o Sr. Alfredo e a Elisabete.