quinta-feira, 19 de junho de 2008

SIMPS - Restaurante

Parque Manuel P Coentro
Porto Salvo














Dito assim até parece nome de código. Salvo erro quererá dizer Sociedade de Instrução Musical de Porto Salvo, mas não ponho as mãos no lume pela fidelidade com que interpreto a sigla. Quero lá saber. Porque se um dia destes se perderem pela velha zona de Porto Salvo, experimentem este local de excelência na comida verdadeiramente portuguesa. Isso sim, é importante.
Escondido atrás do coreto no Parque Manuel Coentro - nome premonitório de que algo de culinário ali haveria de acontecer...- vive pacatamente, quase oculta, uma das capelinhas de que tanto gosto de comida portuguesa genuina. Com criatividade, honestidade e imaginação. Grelhados de carne e peixe sempre, mas confecção de tacho com um gosto vernáculo e tradicional de grande e sabedora autenticidade.
Em tempos de outra curtimenta pessoal, uma vez, alguém me disse que a comida tinha de ser feita com amor. E muitas vezes,- oh, quantas vezes!... - a cozinha dá-nos precisamente essa dimensão. Pois é. Tudo está certo, tudo está perfeito, mas nota-se a ausência de gosto, o perfume indisfarçável dos sabores; isto é, o amor e a paixão com que o acto culinário foi praticado não está reflectido na confecção. Porque não existiu. E o certo fica incerto; o perfeito afinal, vira imperfeito.
Não é o caso aqui. Há um gosto visível em cozinhar que se estende ao prazer de ver o cliente satisfeito.
Estávamos com o tempo limitado. Os pratos do dia eram bochechas de porco preto com legumes e pés de leitão de coentrada, que provámos; e ainda costeletas de sardinha, que já tinham esgotado do almoço.
As costeletas de sardinha são um prato quase desconhecido de culinária portuguesa que revelam, só por si, um saber e um trabalho de preparação só possível com dedicação. A tendência é para as fritar, fazer em escabeche, incluir na caldeirada, ou simplesmente grelhar. Mas quem experimentar, percebe porque vale a pena. Atenção que o pitéu tem vários nomes conforme o restaurante, o chef e a região, sendo também conhecido como sardinhas albardadas, filetes fritos de sardinha, etc. por aí fora.
Ambas as provas estavam a satisfazer, mas permito-me salientar os pèzinhos com batata cozida nova e um molho de bradar aos céus no apuro, na seda caldosa, no vinagre, nas ervas, enfim, em tudo o que distingue a tal comida feita com saber e com amor.
Sobremesas de sericaia e requeijão com doce de abóbora caseiro, ambas bem fornecidas e ajustadas.
Ao que parece há às sextas feiras uma sopa rica de peixe que é de experimentar como prato/refeição mais que suficiente. Hei-de provar.
Amplo estacionamento, serviço agradável.
Perdoa-se o sítio meio desajustado para funcionar como restaurante, debaixo da colectividade que lhe dá o nome e o barulho de pulos que, por vezes, vem do primeiro andar, onde se tenta talvez repor com corridas e ginástica a elegância que se perde no rés do chão...
Transição entre a tasca portuguesa e o restaurante de sabor regional não classificado, o palco é montado em toalhas e guardanapos de papel e as alfaias, iluminação, a sala e o ambiente não têm luxos. Gente simples, sem mesuras, com afabilidade natural. O luxo está na comida.
Mas por favor não digam a muita gente.
Estes sítios têm de manter-se assim mesmo.
Com amor pelo que se faz e pelo que se serve.

Resumo

Sala/Mobiliário **; Porções****; Tempo de espera****; Confecção ****; Serviço ***; WC ** Estacionamento -*****; Paisagem/Ambiente **; Grau de satisfação geral ****
Preço $$

2 comentários:

Anônimo disse...

wala pulos imo blog.

Anônimo disse...

Tantos anos volvidos e eis que o meu amigo volta à SIMPS (sim, Sociedade de Instrução Musical de Porto Salvo). E é com alegria que tomo conhecimento de que ficou satisfeito. De alguma forma os meus conterrâneos encarregaram-se de retibuir o prazer que eu - e mais 20 ou 20 000? - tive ao ouvi-lo no andar de cima, mesmo sem microfone..., nos idos de 1975.
Continuo a ser seu fiel ouvinte e creia que o prazer não esmoreceu, bem pelo contrário; tenho presente o seu álbum "Crónicas da Violentíssima Ternura", decerto feito para ser ouvido clandestinamente (a sua não passagem nas televisões e rádios isso me faz crer...) e considero-o dos melhores discos que conheço.
Já vai longo o comentário, mas ain da lhe quero dizer que o vou lendo no "Sorumbático"; que não lhe doam os dedos.
Obrigado Pedro Barroso.

12 de Julho de 2008.

António David