quinta-feira, 17 de abril de 2008

A Marítima de Xabregas

Rua da Manutenção 40 - Lisboa
1900-320 LISBOA

Por vezes esquecemos que Lisboa é uma cidade portuária e que a tradição marítima tem a sua componente peculiar. Algumas casas ainda evocam essa actividade portuária em zonas costeiras de Belém a Cabo Ruivo, e algumas envergam como emblema no seu nome essa designação orgulhosamente. Há esta de que vos falo aqui hoje, e pelo menos uma outra, que eu saiba, na Trafaria.
A Marítima de Xabregas é uma dessas casas ainda de parreirinha à porta e grelhados a carvão. Que nostalgia tenho de uma Lisboa onde encontrava, em tempos, tasquinhas com grelha fumando à entrada, que nos davam à hora do almoço a majestosa pré-gustação dos seus pitéus, com um cheiro a entremeadas, couratos, febras, sardinhas e carapaus fundindo-se no ar.
Sim, eu sei que o vizinho de cima também é gente, e tem de estender a roupa no estendal e viver a sua vida. Mas continuo a achar, que numa cidade ideal onde ninguém abusasse de ninguém, sempre que possível, esse espírito e apelativo visual deveria ser permitido. É hipócrita que se não permita lançar o fumo ali ao nível do 1º andar e se permita a mesmíssima poluição um ou dois andares acima. Sempre achei também que é uma imagem bonita e tipicamente nossa, de abanador na mão. Os turistas deleitam-se com esse aspecto, aliás salutar, da nossa culinária; e já agora, a imagem de uma cidade como Setúbal, por exemplo, nunca será a mesma se amanhã proibirem os restaurantes de grelha ao ar livre.
Preocupante, a meu ver. Mas adiante.
Tudo isto vem a propósito da casa de cerca de 140 lugares sita em Xabregas e onde se comem os mais famosos filetes de peixe-galo (17€!) bem como toda a espécie de grelhados no carvão. O ambiente é informal e barulhento, mas a confecção é boa e vem com apresentação muito acima das expectativas para uma casa do género.
Da ementa fazem parte ainda regularmente frango de cabidela, irozes de todas as formas e feitios, grelhadas ou em ensopado, bem como todo o tipo de peixe em geral. Nas carnes, o cozido à portuguesa à 5ª-feira parece ter procura e tanto quanto vi no vizinho do lado tinha óptima catadura. Carne maronesa; mais um estabelecimento felizmente preocupado com esse detalhe de determinação de origem controlada e à vista do cliente.
Entradas postas na mesa constituídas por queijo de ovelha e presunto pata negra muito fino e de boa origem e sabor, ambos cortados na hora. Foram pedidos uma corvina grelhada e chocos à algarvia. Ambos excelentes e no ponto. Atenção que os chocos, por vezes a pretexto de uma tipicidade duvidosa, trazem o talo e a boca calosa e são gravemente infanticidas. Aqui não. A apresentação feita em travessas-marcador com cenoura cortada,beringela e brócolos no ponto, esteve visualmente correcta e com nota alta.
Petiscos fora de horas, como caracóis e ainda conquilhas, berbigão e amêijoa a fazer lembrar a presença, ali mesmo ao lado, do Mar da Palha.
Três salas com amesendação de toalhas e guardanapos de pano e apenas cobertura de protecção em papel. Serviço sem mordomias nem atenções especiais. Ambiente descontraído e televisão acesa… Mas se gosta de comer bem e andar pela zona oriental da cidade, pode ir.
Marítimo ou não.

RESUMO
Sala/Mobiliário **; Porções***; Tempo de espera***; Confecção ****; Serviço ***; WC **; Estacionamento ***; Paisagem/Ambiente **; Grau de satisfação geral ***
Preço $$$

Um comentário:

João disse...

Quantas vezes almoçei na Marítima...